São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O pedagogo

No fim da tarde quente, não tomou a chuva por surpresa.

Saiu apressada, mas ainda na hora, na exata hora.

De longe o viu andando, devagar, meio penso, com a sacola de livros pendurada no andador.

E ainda de longe o viu encarar a parte do trajeto que era descoberta, e decidir enfrentar sem olhar para os lados ou para trás em busca de ajuda.

Apressou o passo e o alcançou quando ele já progredira uns três ou quatro metros.

Estendeu o guarda-chuva e ouviu o agradecimento, mais no diminuir da passada e da respiração já ofegante do que propriamente no "valeu" dito.

Alguns passos de silêncio depois, ouviu-o dizer que a mãe certamente reclamaria dos tênis molhados, da barra da calça encharcada. Perguntada sobre o professor da aula do dia, disse-lhe que não era de sua sala, e aproveitou para perguntar que curso fazia.

E achou irônica a resposta - "pedagogia".

E fora pelo rapaz confundida com uma das "senhoritas", como ele disse, de sua classe - seriam muitas.

Até então tinha seguido de cabeça baixa, procurando as poças d'água menos cheias, o que tinha sido em vão, uma vez que o seu acompanhante displicentemente pisava apenas naquelas em que seus calçados pudessem mergulhar por completo.

De rabo de olho, então, viu que ele era mais ou menos da sua altura, devia ser um pouco mais novo, cabelo castanho cortado baixinho.

Mas queria ver mais: se o nariz era adunco ou afilado, se os olhos eram escuros ou claros, se havia covas no queixo, rugas na texta, sinais na bochecha. Enfim, outros elementos que lhe vetassem a desonra futura de identificá-lo apenas pelo andador.

Mas entre submetê-lo ao constrangimento de uma encarada e permanecer na conversa superficial, escolheu a segunda opção, afinal já estavam chegando ao destino.

Viu-o subir um insensível degrau antes da última entrada.

Perguntou-lhe o nome. Era o seu em versão masculina.

Deixou-o no andar térreo e despediu-se.

E porque quis usar as pernas, ignorou o elevador e encarou os quatro lances de escada.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os sonhos

Enquanto a Marcele poetiza os sonhos dela, a minha pobreza literária invade até as madrugadas em que efetivamente estou dormindo.

E se a vida gira em torno de: 1. um regime brabo; 2. vida de doméstica; 3. estudos?

Sidney Sheldon, pronto para que eu lhe conte meus sonhos?

1. Ontem sonhei que tava jantando alguma coisa bem gostosa. Esses sonhos são normais em época de regime. Já sonhei que tava comendo pizza, macarronada e até bolo de chocolate, e olha que nem sou muito fã de doce.

2. Também ontem sonhei que inventavam uma máquina
de lavar pano de prato. SIM! Uma máquina de lavar pano de prato! Era maravilhosa! Tinha umas funções de lavar "panos de prato bordados". Rá! Devo ter sonhado isso porque os meus são todos bordadinhos, a coisa mais linda, mamãe que fez. Olha só um dos bordados dela (invendáveis, diga-se de passagem):

E tenho que lavar todos na mão. Ai... E quando mancha de comida?
Até hoje tenho um que tá todo rosa, porque sem querer encostei na água do macarrão, ele manchou de coloral (ó negócio ruim de sair do caraléo), eu coloquei dentro de uma bacia com água e Vanish ("ah, amor, você devia ter colocado só a mancha, nera?" - foi o que o meu marido disse, um pouquinho mais inteligente do que eu!). Aí descobri uma nova forma de tingir panos de prato pra Barbie...

3. Anteontem sonhei que tatuava em mim o nome do cursinho que estou fazendo. Quando o meu marido via (beeem naquela hora) perguntava quem era aquele cara, que A-B-S-U-R-D-O era aquele. Como é que eu podia ter tido coragem de fazer aquilo, se nunca tinha feito sequer uma tatuagem pra ELE, que era meu marido! (Detalhe: não tenho tatuagens, nem sei se terei alguma um dia).

Se eu sonhar de novo alguma coisa bizarra dessas eu juro que sigo o conselho do meu marido e começo uma terapia. Ou então eu conto pra vocês. Acho que vai surtir mais ou menos o mesmo efeito...