São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sorte

Na semana em que a vovó Maria morreu, fiquei meio anestesiada, grogue. Acho que é normal.

Aí na quinta e na sexta da mesma semana, forças ocultas, como diria o Jânio Quadros, agiram para me tirar do sério. E só o luto pra me fazer passar por essas sem dar muita importância. Mas vamos às histórias.

Episódio I*

Na quinta-feira eu tinha uma consulta às 11h30min. Ia pro trabalho mais cedo, pra poder sair no meio do dia e tal. Saí de casa, passei no vovô pra dar aquele alô básico e me toquei que tinha esquecido os dois celulares (três chips, viu?) em casa.

"Tem nada não, eu volto pra pegar, é perto..."

"Aproveite e bote gasolina, que tá acabando!" - Disse a minha santa mãezinha.

E como eu herdei o semi-alzheimer dela, é óbvio que não passei em casa pra pegar os celulares.

Até me lembrei de colocar combustível, mas me confiei naquela luzinha maldita, sabe, que acende e ainda fica lá, quilômetros e quilômetros? É... mas o meu carro era um 1.0, Deus-meu, e o do papai-que-ele-me-emprestou-com-todo-amor-e-é-uma-máquina é 2.0.

E o resto é fácil deduzir.

Eu já tava derretendo, sem ligar o ar condicionado e aproveitando todas as banguelas (as duas leis de newton para a lisei... para quem está sem muito combustível - ei, mas as leis de newton não eram três?).

Quando faltavam uns cinco quarteirões pro posto, levantei os vidros e larguei o dedão no botão do ar. Foi mais rápido que a luz. Instantaneamente o carro começou a tossir meu amigo**...

E aí, o que eu pensei, o que eu pensei? "Vou ligar pra mamãe!"

Rá!

Como é que liga, sem nenhum dos meus dois celulares? Sem nenhum dos meus três chips? Até então eu nem tinha me tocado que tinha esquecido de voltar pra pegá-los.

A sorte é que, com o perdão do clichê, ainda existe gente boa nesse mundo. Dei o prego em frente a uma lojinha e a dona me emprestou o celular dela pra que eu ligasse, nem deixou eu ligar a cobrar. E aí mamys, minha personal-chapolin-colorado, apareceu com duas garrafas de refrigerante, uma de fanta laranja e outra de fanta uva***, cheinhas de álcool pro papi-móvel.

E pra "encher o tanque" sem derramar álcool na lateral do carro? Nam. Ontem meu santo marido enfim comprou uma flanela, pedaço de pano sagrado que poderia ter me poupado correr feito uma louca atrás de água, depois dessa história toda, pra pintura do carro não ficar manchada.

Depois, respirei e segui meu caminho alegre e contente para sempre, ou pelo menos até o episódio 2.


Episódio 2.

Na sexta a sorte estava virando. Faltou energia quase a tarde toda no trabalho (que disposição, lutty) e eu ia aproveitar pra ir fazer um exame que há séculos tava querendo fazer.

Saí então do trabalho, mas tinha milhares de carros me trancando no estacionamento.

Peguei então uma carona de uma amiga muy querida, que ia passar pertinho da clínica, e programei voltar de táxi e pegar o carro depois.

Quando cheguei ao balcão da clínica, entreguei a requisição e cadê a carteira do plano de saúde, cadê a identidade, cadê T-U-D-O? Tinha deixado a carteira, é, a carteira, grande, com tudo, tudo, dentro, em casa. Por que as mulheres têm que trocar de bolsa? - Eu já disse que herdei o semi-alzheimer da minha mãe (se é que existe herança de pessoa viva)?

A mocinha da recepção, muito boa: "A sra. pode deixar um cheque caução."

Mas como, se eu tinha esquecido a carteira? E putz... Como é que eu ia voltar pra Procuradoria sem dinheiro nenhum... Que m. E das grandes.

But... O Chaves que havia em mim disse: "Não contava com a minha astúcia!"

Mamys, na antevéspera, tinha deixado cair um talão de cheque num hospital pertinho do meu trabalho (vocês duvidaram quando eu disse que ela tinha semi-alzheimer) e justo naquele dia eu tinha ido pegar. E foi nessa sexta-feira que eu falsifiquei o primeiro cheque da minha vida... Ok, prometo ser o único.

Depois, família unida, ai que maravilha... Um primo tava voltando da praia, passou lá onde eu tava fazendo exame e me deixou no trabalho de volta...

Deus meu, obrigada!

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* Será que eu tenho TOC de falar as coisas enumerando?

**Reconheci na hora o prego de gasolina porque esse não foi o primeiro... All right. O primeiro, shame on me, foi por pura liseira mesmo.

*** Lembro dos sabores porque faz oito meses que não tomo nenhum refrigerante (promessa) e fiquei meio hipnotizada por meio segundo quando vi a mamãe chegar. Se aquelas garrafas não estivessem puro a cachaça...

**** (Não volte pra procurar porque não está no texto) Foi mal pelo post gigante. Meu marido diz que sou prolixa. Será?

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