São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Meus professores


A primeira teacher de que tenho lembrança é a da alfabetização, a Tia Juliana, ainda na escolinha da Tia Neide. Era baixinha (naquele época eu já a achava baixinha, então ela devia ser mesmo), de cabelo preto e curto, voz mansa, tão calma... Até hoje quando a vejo ainda a chamo de Tia.

Depois veio a mudança pro colégio grande e eram duas professoras por sala, se não me engano, mas só me lembro de uma, a Tia Rita: cabelo estilo Chitãozinho e Xororó (dispensa descrições), meio acinzentado; batom bem vermelho ou rosa choque; calça de cintura alta (a moda é cíclica mesmo!). E carinho, muito carinho. Todo mundo era doido por ela.

Na terceira série, uma vez, eu saí de uma aula de artes da Tia Margarida com um "artesanato" feito de lata de leite, e resolvi dar a uma professora de quem eu gostava muito (nem vou falar o nome). E sabe o que ela disse? "O quê que eu vou fazer com isso?". Eu fiquei arrasada e voltei pra casa com a minha latinha e contei pra mamãe, que ficou indignada, mas nem foi atrás de confusão porque também trabalhava no colégio.

Teve também a Tia Albanice, na quarta série, que às vezes, no recreio, pagava lanche pra mim. Ela era loira, usava uns óculos fundo de garrafa bem grandes.

No Colégio Militar teve uma ruma. E tinha também os monitores. Nunca me esqueci do Sgt. Lauser, o da quinta série. No final do ano ele deu uma plaquinha a cada aluno da turma. Tenho guardada até hoje. O Sub Tietre, que faleceu bestamente, num acidente de carro, há poucos anos.

Quando saí do CMF tive um choque com a informalidade dos professores do Farias Brito. Ainda lembro que a primeira vez que quis ir ao banheiro, me levantei e fiquei esperando o professor, Severo, de Física, olhar pra mim (como fazíamos no CMF) - quase bati continência. Passei quase um minuto em pé e o professor continuou dando a aulinha dele, me ignorando. Já tava ficando feia a situação. Aí fui devagarzinho lá na frente, fui me aproximando, e ele dando aula, dando aula. Até que eu bem baixinho falei: "Professor?" "O que foi?" "É que eu gostaria de saber se posso ir ao banheiro?", "Claro que pode, por que ainda num foi?". Afe, eu achei aquilo tão absurdamente não-hierárquico, tão insolente da minha parte. Imagine só, ir ao banheiro sem pedir permissão ao professor. E ainda praticamente levar um carão se eu pedisse pra ir.

No terceiro ano, ainda no FB, experimentei o gostinho das aulas motivacionais que só os professores de cursinho sabem dar.

Ah, mas a melhor época mesmo foi a FA-CUL-DA-DE. Até então eu não tinha ideia do papel de um professor na vida de um ser. Na faculdade de Direito, existem inúmeros professores Juízes, Promotores, De(u)sembargadores, quando não, nessas faculdades das grandes capitais, Ministros. O problema está quando eles pensam que a sala de aula é a Secretaria de Vara onde eles trabalham, em que podem exercer a autoridade sem limites, sem restrições, sem cobranças e sem contraprestação. Ou quando não são nada disso e querem fazer da sala de aula um espaço de auto-afirmação. Mas há também almas boas, razoáveis.

Bom, essa baboseira todinha foi pra dizer que ontem me senti novamente no terceiro ano. O professor se empolgou tanto na motivação do povo, logo no começo da aula, que eu fiquei "cos ói chei d'água".

E o que faz a diferença entre um professor ruim, um professor bom e um professor que vai marcar a sua vida? São esses detalhes, essas pequenas poções de sabedoria, essas gotas de conhecimento por vezes não jurídico, que são soltas despretensiosamente ou não e que por um motivo ou outro fazem o meio do seu peito pungir, por aflição, por identificação ou qualquer outro sentimento que simplesmente não se explica.



* Na foto, Colégio Militar de Fortaleza.

2 comentários:

Juliana Braveza disse...

Lu, que bacana esse seu texto!!! Nao so pelas lembranças do Farias Brito, mas tb porque hoje sou professora e sei como eles (nos) sao (somos) importantes na vida de um aluno. E vice-versa!
Eu tenho um blog tb falando das minhas experiências aqui em Montréal, mas parei de escrever por pura preguiça, pode???
Vou ver se tenho ânimo em continuar.
Parabéns pelo seu. Beijos!
Ju

Dinorah disse...

Incrível como professores que tem carisma nos fazem gostar, aprender, achar interessante a pior das matérias. Isto não é para qualquer "gênio", normalmente este admiráveis mestres nos ganham pelo carinho e simplicidade.
um abraço
Dinorah