São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.
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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Planos?

Outro dia eu tava assistindo ao Altas Horas e o Humberto Gessinger, do Engenheiros do Hawaí, disse uma frase que me fez ficar pensando sobre o assunto dias: "Se você quiser contar uma piada pra Deus, faça planos".

A gente veio passar a Semana Santa em Fortaleza, e anteontem eu passei em frente à Procuradoria (onde eu trabalhava até dezembro) e vi como essa frase se encaixa na minha vida.

Em 2004, quando eu fiz o concurso pro meu atual emprego (esse de que estou licenciada), o concurso era nacional e eu não tive pontuação pra passar pra Fortaleza. Acabei me classificando pra São Paulo. À época, como já era concursada em outro órgão, até achava que nem assumiria o novo, porque teria que me mudar pra SP e tudo mais.

Mas quando fui chamada, consegui uma pessoa para trocar comigo (ela iria de Fortal pra SP e eu o contrário) e, resumindo a história - graças à intercessão de Nossa Senhora Aparecida (e isso daria um outro post, certeza) -- em setembro de 2005 fui nomeada, no dia 12 de outubro viajei pra São Paulo e no dia 13 assumi; dia 20 de dezembro do mesmo ano estava de volta, para passar o Natal; dia 27 de dezembro a minha permuta já estava deferida e eu já podia começar a trabalhar em Fortaleza.

Para quem não é do serviço público federal, pode parecer algo simples, mas para quem conhece um pouco dos concursos e do serviço público, é fácil saber o quanto é difícil uma remoção para Fortaleza.

O fato é que eu tinha conseguido e estava muito feliz com tudo aquilo: salário dobrado, emprego federal, casamento sendo planejado, enfim, tudo perfeito.

Os anos passaram, fomos fazendo os nossos planos.

Casamos em 2007, compramos um apartamento em 2008, planejávamos um filho pra 2009... enfim, tudo corria normalmente.

Mas... como a frase do Humberto lá do começo do post disse, começou a piada:

1 - Resolvemos que o husband ia sair do job dele pra estudar pro concurso que queria - adia o menino (tem coisa pra dar mais despesa do que filho?).

2 - A construtora atrasou a entrega do apartamento - adia a mudança e enche o saco da sogra (a gente tava morando lá) por um ano e nove meses, e não por seis meses, como combinado no início - AH! Adia o menino também.

3 - Marido passou! Eba! Mudança pra Osacity (ainda bem, porque podia ser pra lugares bem inóspitos, no interior do interior do país). Ele foi em julho de 2011. Resultado: só morou 6 meses no ap novo. Eu ainda fiquei por lá mais dois meses. Depois fui pra casa da mamãe (meses que renderiam outros posts hilários) e me mudei pra Osa em dezembro.


4 - Resolvemos que, dessa vez, eu ia ficar só estudando: desperdiça a sorte de 2005, e, e, e adia o menino!!!


Pois é (os paulistas diriam "então" - eles falam muito essa palavra, ah, e falam também um palavrão, aquele "fud**" como se fosse uma palavra normal, em todas as suas variações linguísticas)... Mas eu sou cearense e falo "pois é".

Pois é. Só fazem quatro meses. Mas já tenho pressa de passar em outro concurso. Tenho pressa de voltar a trabalhar. Tenho pressa de voltar a ter capacidade econômica. Tenho pressa de voltar pra Fortaleza.

A maior das pressas não precisa ser dita.

A maior das pressas é talvez a única que faça sentido.



*Ilustração - janamagalhaes.com.br

quarta-feira, 2 de março de 2011

1 ano sem refri

No dia 25 de fevereiro do ano passado, saiu o resultado do concurso do meu amado marido.

Acordei, assim como nos dias anteriores, com o barulho do estabilizador do computador. Imaginei que ele já estava sentado na cadeira, tentando ver se o resultado tinha saído no Diário Oficial da União daquele dia. "Saiu, amor!!!"

Dei um pulo da cama e corri pro gabinete - pausa dramática: ai que saudade do nosso apartamento... - Ele tava passando mal, mesmo. Coloquei a mão no peito dele e estava aos pulos, nunca tinha visto daquele jeito. Na primeira fase, ele tinha ficado entre as últimas vagas, não podia cair mais do que 15, 20 posições.

Mas quando a gente viu o resultado da 2ª fase lá estava ele, bem acima, tinha subido mais de 200 posições... Ai, foi um alívio e uma felicidade sem tamanho. Depois de tanto sacrifício, tanto tempo sem trabalhar, tantos estresses... Ele merecia! E eu também!

Mas enfim, o que o refrigerante tem a ver com tudo isso?

É que, se ele passasse, teríamos que cumprir algumas promessas que tínhamos feito a Nossa Senhora Aparecida. Uma delas era visitar a Basílica, em Aparecida do Norte, o que fizemos recentemente, quando os meus sogros vieram a Osacity, em dezembro. Olha a foto que tirei:

(essa é a imagem original de Nossa Senhora Aparecida, achada nas águas do Rio Paraíba)

E outra promessa, a que explica o título deste post, foi a de que ficaríamos um ano sem beber nenhum refrigerante. Nenhum mesmo. E aí entrava coca-cola, guaraná (até kuat, aquela porcaria), fanta uva, laranja, etc, e essas águas com corante, tipo H2O, Aquarius...
Dia 28 de fevereiro do ano passado fizemos a nossa despedida.
Um ano se passou e o dia da glória chegou:


Vale ressaltar que as coquinnhas estavam devidamente dormidas, ou seja, foram compradas com antecedência, e ficaram descansando em berço esplêndido, na geladeira, pra ficar no ponto.

Quando cheguei da aula fomos rezar o terço, pra agradecer esse ano MA-RA-VI-LHO-SO que Deus nos deu, com a intercessão de Nossa Senhora, e depois fomos nos preparar para esse momento de emoção.

Algumas pessoas me perguntaram por que eu não ficava logo sem beber de uma vez, já que tinha ficado um ano sem beber. Porque eu não quero, oras! E porque acho que, com moderação, não irá me fazer mal! Mal faz é cigarro, cachaça... E olha que uma das pessoas que me "aconselhou" a parar de beber refri bebe (bebiba alcóolica) quase todo dia.

Outra me disse que isso não era sacrifício, que sacrifício mesmo era juntar o dinheiro de todas as cocas que eu não tinha bebido e dar aos pobres. Acho sinceramente que todos devem fazer pelo menos um pouco de caridade, sim, mas não se deve sair por aí dizendo o que se faz ou se deixa de fazer.

Além disso, cada um sabe o que é sacrifício para si. Se pra mim sacrifício é passar um ano sem beber refrigerante, pra uma amiga minha sacrifício é passar um mês sem ir pra academia. Meu marido até cogitou incluir na promessa o chocolate, mas achou que seria forte demais e não aguentaria. Resolveu fazer só durante a páscoa. Quase morre. Já pra mim, não seria quase nenhum sacrifício. Enfim, não dá pra ficar medindo os outros com a própria régua.

Voltando à coquinha (é estranho escrever assim, mas não achei uma forma melhor), foi bom demais! Estava geladérrima! Só achamos um pouco doce. Impressionante como o paladar se acostuma. Já o guaraná e a coca-zero não achamos tanto.

O melhor de tudo é saber que o tempo passou e tudo deu certo, mesmo sendo os planos de Deus tão diferentes dos nossos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O pedagogo

No fim da tarde quente, não tomou a chuva por surpresa.

Saiu apressada, mas ainda na hora, na exata hora.

De longe o viu andando, devagar, meio penso, com a sacola de livros pendurada no andador.

E ainda de longe o viu encarar a parte do trajeto que era descoberta, e decidir enfrentar sem olhar para os lados ou para trás em busca de ajuda.

Apressou o passo e o alcançou quando ele já progredira uns três ou quatro metros.

Estendeu o guarda-chuva e ouviu o agradecimento, mais no diminuir da passada e da respiração já ofegante do que propriamente no "valeu" dito.

Alguns passos de silêncio depois, ouviu-o dizer que a mãe certamente reclamaria dos tênis molhados, da barra da calça encharcada. Perguntada sobre o professor da aula do dia, disse-lhe que não era de sua sala, e aproveitou para perguntar que curso fazia.

E achou irônica a resposta - "pedagogia".

E fora pelo rapaz confundida com uma das "senhoritas", como ele disse, de sua classe - seriam muitas.

Até então tinha seguido de cabeça baixa, procurando as poças d'água menos cheias, o que tinha sido em vão, uma vez que o seu acompanhante displicentemente pisava apenas naquelas em que seus calçados pudessem mergulhar por completo.

De rabo de olho, então, viu que ele era mais ou menos da sua altura, devia ser um pouco mais novo, cabelo castanho cortado baixinho.

Mas queria ver mais: se o nariz era adunco ou afilado, se os olhos eram escuros ou claros, se havia covas no queixo, rugas na texta, sinais na bochecha. Enfim, outros elementos que lhe vetassem a desonra futura de identificá-lo apenas pelo andador.

Mas entre submetê-lo ao constrangimento de uma encarada e permanecer na conversa superficial, escolheu a segunda opção, afinal já estavam chegando ao destino.

Viu-o subir um insensível degrau antes da última entrada.

Perguntou-lhe o nome. Era o seu em versão masculina.

Deixou-o no andar térreo e despediu-se.

E porque quis usar as pernas, ignorou o elevador e encarou os quatro lances de escada.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os sonhos

Enquanto a Marcele poetiza os sonhos dela, a minha pobreza literária invade até as madrugadas em que efetivamente estou dormindo.

E se a vida gira em torno de: 1. um regime brabo; 2. vida de doméstica; 3. estudos?

Sidney Sheldon, pronto para que eu lhe conte meus sonhos?

1. Ontem sonhei que tava jantando alguma coisa bem gostosa. Esses sonhos são normais em época de regime. Já sonhei que tava comendo pizza, macarronada e até bolo de chocolate, e olha que nem sou muito fã de doce.

2. Também ontem sonhei que inventavam uma máquina
de lavar pano de prato. SIM! Uma máquina de lavar pano de prato! Era maravilhosa! Tinha umas funções de lavar "panos de prato bordados". Rá! Devo ter sonhado isso porque os meus são todos bordadinhos, a coisa mais linda, mamãe que fez. Olha só um dos bordados dela (invendáveis, diga-se de passagem):

E tenho que lavar todos na mão. Ai... E quando mancha de comida?
Até hoje tenho um que tá todo rosa, porque sem querer encostei na água do macarrão, ele manchou de coloral (ó negócio ruim de sair do caraléo), eu coloquei dentro de uma bacia com água e Vanish ("ah, amor, você devia ter colocado só a mancha, nera?" - foi o que o meu marido disse, um pouquinho mais inteligente do que eu!). Aí descobri uma nova forma de tingir panos de prato pra Barbie...

3. Anteontem sonhei que tatuava em mim o nome do cursinho que estou fazendo. Quando o meu marido via (beeem naquela hora) perguntava quem era aquele cara, que A-B-S-U-R-D-O era aquele. Como é que eu podia ter tido coragem de fazer aquilo, se nunca tinha feito sequer uma tatuagem pra ELE, que era meu marido! (Detalhe: não tenho tatuagens, nem sei se terei alguma um dia).

Se eu sonhar de novo alguma coisa bizarra dessas eu juro que sigo o conselho do meu marido e começo uma terapia. Ou então eu conto pra vocês. Acho que vai surtir mais ou menos o mesmo efeito...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Meus professores


A primeira teacher de que tenho lembrança é a da alfabetização, a Tia Juliana, ainda na escolinha da Tia Neide. Era baixinha (naquele época eu já a achava baixinha, então ela devia ser mesmo), de cabelo preto e curto, voz mansa, tão calma... Até hoje quando a vejo ainda a chamo de Tia.

Depois veio a mudança pro colégio grande e eram duas professoras por sala, se não me engano, mas só me lembro de uma, a Tia Rita: cabelo estilo Chitãozinho e Xororó (dispensa descrições), meio acinzentado; batom bem vermelho ou rosa choque; calça de cintura alta (a moda é cíclica mesmo!). E carinho, muito carinho. Todo mundo era doido por ela.

Na terceira série, uma vez, eu saí de uma aula de artes da Tia Margarida com um "artesanato" feito de lata de leite, e resolvi dar a uma professora de quem eu gostava muito (nem vou falar o nome). E sabe o que ela disse? "O quê que eu vou fazer com isso?". Eu fiquei arrasada e voltei pra casa com a minha latinha e contei pra mamãe, que ficou indignada, mas nem foi atrás de confusão porque também trabalhava no colégio.

Teve também a Tia Albanice, na quarta série, que às vezes, no recreio, pagava lanche pra mim. Ela era loira, usava uns óculos fundo de garrafa bem grandes.

No Colégio Militar teve uma ruma. E tinha também os monitores. Nunca me esqueci do Sgt. Lauser, o da quinta série. No final do ano ele deu uma plaquinha a cada aluno da turma. Tenho guardada até hoje. O Sub Tietre, que faleceu bestamente, num acidente de carro, há poucos anos.

Quando saí do CMF tive um choque com a informalidade dos professores do Farias Brito. Ainda lembro que a primeira vez que quis ir ao banheiro, me levantei e fiquei esperando o professor, Severo, de Física, olhar pra mim (como fazíamos no CMF) - quase bati continência. Passei quase um minuto em pé e o professor continuou dando a aulinha dele, me ignorando. Já tava ficando feia a situação. Aí fui devagarzinho lá na frente, fui me aproximando, e ele dando aula, dando aula. Até que eu bem baixinho falei: "Professor?" "O que foi?" "É que eu gostaria de saber se posso ir ao banheiro?", "Claro que pode, por que ainda num foi?". Afe, eu achei aquilo tão absurdamente não-hierárquico, tão insolente da minha parte. Imagine só, ir ao banheiro sem pedir permissão ao professor. E ainda praticamente levar um carão se eu pedisse pra ir.

No terceiro ano, ainda no FB, experimentei o gostinho das aulas motivacionais que só os professores de cursinho sabem dar.

Ah, mas a melhor época mesmo foi a FA-CUL-DA-DE. Até então eu não tinha ideia do papel de um professor na vida de um ser. Na faculdade de Direito, existem inúmeros professores Juízes, Promotores, De(u)sembargadores, quando não, nessas faculdades das grandes capitais, Ministros. O problema está quando eles pensam que a sala de aula é a Secretaria de Vara onde eles trabalham, em que podem exercer a autoridade sem limites, sem restrições, sem cobranças e sem contraprestação. Ou quando não são nada disso e querem fazer da sala de aula um espaço de auto-afirmação. Mas há também almas boas, razoáveis.

Bom, essa baboseira todinha foi pra dizer que ontem me senti novamente no terceiro ano. O professor se empolgou tanto na motivação do povo, logo no começo da aula, que eu fiquei "cos ói chei d'água".

E o que faz a diferença entre um professor ruim, um professor bom e um professor que vai marcar a sua vida? São esses detalhes, essas pequenas poções de sabedoria, essas gotas de conhecimento por vezes não jurídico, que são soltas despretensiosamente ou não e que por um motivo ou outro fazem o meio do seu peito pungir, por aflição, por identificação ou qualquer outro sentimento que simplesmente não se explica.



* Na foto, Colégio Militar de Fortaleza.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

As pessoas e suas circunstâncias

Na faculdade eu tinha uma professora que passava dever de casa.
Não estou exagerando.
A gente passava quase duas horas escutando a voz aguda da professora loira de sobrenome espanhol, e no final da aula ela abria a boca e dizia: "Dever de caaasa!!!".
Cada um anotava no caderno - a revolta crescendo por dentro - a pergunta pra qual ela queria resposta: o sexo dos anjos, a nossa marca de absorvente preferida, ou enfim, o que quer que fosse o "dever de casa".
Essa professora arrotava uma grandeza que mal dava pra aguentar (jura que na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará tem professores assim?).
Ao final do semestre, sempre ficava boa parte da sala de final. Era um atestado de "eu sou f..., ninguém passa direto na minha cadeira". E no meu semestre não foi diferente. De 60 pobres almas indefesas, 40 ficaram no limbo.
Lembro como se fosse hoje eu estudando feito louca, por quatro ou cinco livros diferentes, pra fazer uma prova que apenas era, descobri depois, a cópia alterada de provas aplicadas em semestres anteriores. Digo "alterada" porque ela fazia assim: no semestre 2004.1 colocava uma alternativa como verdadeira e no 2004.2 como falsa, acrescendo alguma palavra como "não", "nenhum", etc.
Pois bem. Passei. Porém, como tantos outros, adquiri um pequeno-sutil-discreto-leve ódio mortal dessa teacher.
E eis que, no domingo da eleição, estou eu no setor de uns colegas, de costas pra porta, quando escuto uma voz inconfundível. IMEDIATAMENTE, reverberou aquela expressão na minha cabeça: "dever de casa!" "dever de casa!" "dever de casa".
Meu coração bateu até mais rápido.
"Oiiii, eu ouvi dizer que aqui tem um bolo de chocolate delicioso!"
Me virei pra olhar o que até ali tinha sido só a voz.
Aquela ég--- nobre senhora estava grávida.
Em um trilhonésimo de segundo pensei: "você-não-vai-comer-esse-bolo-porque-tá-uma-baleia-e-além-do-mais-eu-participei-da-cota-e-não-vou-pagar-pra-você-comer-saia-logo-daqui-senão-você-leva-porrada!!!"
No lugar de vociferar toda a minha raiva, construi feição a mais blasé possível.
E fiquei admirando toda a pequenez daquele ser: agora sugado por outro, com coluna torta, usando blusa de malha "Eleições 2010" e calça de elástico, cabelos loiros agora com quatro dedos de raiz preta, olheiras. Um ser humano normal. Pequeno como todos nós. Destituído de qualquer vaidade em nome de um ainda projeto de gente. Pedindo encarecidamente um pedaço de bolo de chocolate.
Cadê a arrogância, a prepotência, aquela soberba toda?
No dia da eleição, ela era só mais uma MÃE. E era tudo isso.

sábado, 21 de agosto de 2010

Super Nanny


Se eu ficar em casa sábado à noite, troco rapidinho o Jornal Nacional pela Super Nanny brasileira.

O que mais me chama atenção é como o filho mais velho de cada casa é, pelo menos em metade dos casos, tratado da mesma forma.

O casal chama a Super Nanny, achando que o problema todo tá nos filhos. Ela faz rotina, bota o casal pra conversar, e chama o mais velho pra falar sobre papai e mamãe. Cara, não varia: e o menino chora, e diz que a mãe e o pai não têm tempo pra ele, porque os irmãos dão trabalho demais, e diz que queria que a mãe ficasse mais com ele, que queria que ela fosse mais carinhosa, que o irmão não deixa brincar...
Talvez me chame atenção justamente porque eu também sou a mais velha lá de casa. E, no meu caso, há uma agravante: depois de mim ainda vêm 3.

Os pais têm o primeiro filho, o casamento ainda é uma maravilha.

Têm o segundo, e nem tudo vai mais tão bem assim. As contas começam a inchar, os pais não têm mais a mesma paciência de antes... E aí começa: "meu filho, você é o mais velho, tem que ajudar".

Chega o terceiro (o que tá cada vez mais raro, mais ainda chega). "Meu filho, você é o mais velho, não se troque com o seu irmão!". "Meu filho, você tem que dar o exemplo!".

E a mãe e o pai, envolvidos com os caçulas - "ele ainda é tão pequenininho" - e com o do meio - "afff, esse veio de encomenda, ô menino danado!" - acabam se acomodando em relação ao primeiro, que vai meio que crescendo por si só, sempre quietinho, sempre obediente, sempre estudioso, sempre querendo agradar.

Repito: é INCRÍVEL como isso se repete.

Lá em casa foi um pouquinho (mas só um pouquinho) diferente.

Mamãe trabalhava feito louca, e não tinha muito mais tempo para os outros do que pra mim, o que camuflava um pouco o meu abandono.

Papai sempre fez a festa com os meus feitos no colégio. Altamente vibrador, quando eu tinha dez anos apostou um engradado de cerveja com um amigo que eu ia passar no Colégio Militar entre os dez primeiros lugares. E isso botava a minha auto-estima lá na estratosfera. E eu, muito sarcástica, adorava quando ele dizia aos outros "siga o exemplo da sua irmã!". Que menina malvada, tsc tsc tsc...

E vovó (sim, porque fui criada morando também com a minha vó) sempre me teve por neta predileta, nunca conseguiu esconder isso (e eu adoraava, é lógico). E ela dava de conta dos mimos que papai e mamãe não tinham tempo de dar...

Esse "pouquinho" não me tirou a organização, a vontade de estudar e a vontade de agradar os outros. Mas me tirou a carência típica de filho mais velho. Não me tirou o senso de responsabilidade pelos meus irmãos, mas me tirou a insegurança e um pouco (só um pouco) da timidez.
Mas em geral, a minha teoria é a seguinte: filhos mais velhos são os mais estudiosos e mais certinhos; os do meio são os mais sociáveis (sempre negociando com pais e irmãos); os caçulas os mais mimados.
Mas toda teoria tem exceção...