São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.

sábado, 21 de agosto de 2010

Super Nanny


Se eu ficar em casa sábado à noite, troco rapidinho o Jornal Nacional pela Super Nanny brasileira.

O que mais me chama atenção é como o filho mais velho de cada casa é, pelo menos em metade dos casos, tratado da mesma forma.

O casal chama a Super Nanny, achando que o problema todo tá nos filhos. Ela faz rotina, bota o casal pra conversar, e chama o mais velho pra falar sobre papai e mamãe. Cara, não varia: e o menino chora, e diz que a mãe e o pai não têm tempo pra ele, porque os irmãos dão trabalho demais, e diz que queria que a mãe ficasse mais com ele, que queria que ela fosse mais carinhosa, que o irmão não deixa brincar...
Talvez me chame atenção justamente porque eu também sou a mais velha lá de casa. E, no meu caso, há uma agravante: depois de mim ainda vêm 3.

Os pais têm o primeiro filho, o casamento ainda é uma maravilha.

Têm o segundo, e nem tudo vai mais tão bem assim. As contas começam a inchar, os pais não têm mais a mesma paciência de antes... E aí começa: "meu filho, você é o mais velho, tem que ajudar".

Chega o terceiro (o que tá cada vez mais raro, mais ainda chega). "Meu filho, você é o mais velho, não se troque com o seu irmão!". "Meu filho, você tem que dar o exemplo!".

E a mãe e o pai, envolvidos com os caçulas - "ele ainda é tão pequenininho" - e com o do meio - "afff, esse veio de encomenda, ô menino danado!" - acabam se acomodando em relação ao primeiro, que vai meio que crescendo por si só, sempre quietinho, sempre obediente, sempre estudioso, sempre querendo agradar.

Repito: é INCRÍVEL como isso se repete.

Lá em casa foi um pouquinho (mas só um pouquinho) diferente.

Mamãe trabalhava feito louca, e não tinha muito mais tempo para os outros do que pra mim, o que camuflava um pouco o meu abandono.

Papai sempre fez a festa com os meus feitos no colégio. Altamente vibrador, quando eu tinha dez anos apostou um engradado de cerveja com um amigo que eu ia passar no Colégio Militar entre os dez primeiros lugares. E isso botava a minha auto-estima lá na estratosfera. E eu, muito sarcástica, adorava quando ele dizia aos outros "siga o exemplo da sua irmã!". Que menina malvada, tsc tsc tsc...

E vovó (sim, porque fui criada morando também com a minha vó) sempre me teve por neta predileta, nunca conseguiu esconder isso (e eu adoraava, é lógico). E ela dava de conta dos mimos que papai e mamãe não tinham tempo de dar...

Esse "pouquinho" não me tirou a organização, a vontade de estudar e a vontade de agradar os outros. Mas me tirou a carência típica de filho mais velho. Não me tirou o senso de responsabilidade pelos meus irmãos, mas me tirou a insegurança e um pouco (só um pouco) da timidez.
Mas em geral, a minha teoria é a seguinte: filhos mais velhos são os mais estudiosos e mais certinhos; os do meio são os mais sociáveis (sempre negociando com pais e irmãos); os caçulas os mais mimados.
Mas toda teoria tem exceção...

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