São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mudança(s)

Depois de um longo e tenebroso período de exclusão digital, estou de volta.
Dia 7 foi minha despedida no trabalho. Triste, triste, triste. Quase cinco anos e muitos amigos. Teve almoço, vídeo-foto, buquê de rosas... e é bom ser querida. Mas é ruim ir embora.
Dia 8, exatamente no dia em que completava um ano da minha mudança pro apartamento que a gente tinha comprado, voei pra SP. E mais despedida: de pai, de mãe, avó, avô, irmãos, afilhada... Como corta o coração...
But... o que não tem remédio remediado está.
Voo tranquilo, chegada nem tanto (depois que levamos uma multa na área do desembarque do aeroporto de Guarulhos agora toda vida é um estresse sem fim...).
Mas cheguei em casa e tava tudo lindo, cheiroso, arrumado (e o marido que arrumou, viu?). Mais flores e o amor é lindo mesmo depois de quase quatro anos de casamento.
E a delicadeza do meu amor aplacou um pouco a saudade.
E há aviões e telefone e internet e tudo mais...

---xxx---

Meus caros, volta-se porque se tem saudade
Porque se foi feliz intimamente
Volta-se porque se tocou num inocente
E porque se encontrou tranqüilidade

A despeito da vida que acorrente
Volta-se, volta-se para a sinceridade
Volta-se sempre, tarde ou de repente
Na alegria ou na infelicidade.

E nada como esse apelo da lembrança
Para se transfigurar numa esperança
Essa desolação que uma alma leve

Assim é que, partindo, eu vou levando
Toda a desolação de um até-quando
Num ardente desejo de até-breve.

Vinicius de Morais

sábado, 4 de dezembro de 2010

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Se a proximidade de rever o marido te alegra, a certeza de ir pra longe dos daqui te angustia, certo?
E se o trabalho era demais, o que agora te assombra é o incerto, é o estudar-por-não-sei-quanto-tempo, é o viver com um objetivo só, é o ter só um assunto.
Se há ano e meio tua vida tava certa, tua casa tava comprada e a decoração planejada, hoje teu apartamento é de aluguel, a tua cidade não é mais tua, teu marido tem outro emprego e teu trabalho nem vai mais ser o teu trabalho.
E o teu plano era ter filho esse ano? Mas já é dezembro! E no teu canto novo não tem mamãe nem sogrinha. Ah, e teu emprego agora é estudar. Então espera aí que agora não dá não...


---xxx---


Oração ao Tempo
Caetano Veloso

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo

sábado, 27 de novembro de 2010

Faltam 11 dias!

Quando eu te encontrar
Biquini Cavadão

Eu já sei o que os meus olhos vão querer
Quando eu te encontrar
Impedidos de te ver
Vão querer chorar
Um riso incontido
Perdido em algum lugar
Felicidade que transborda
Parece não querer parar
Não quer parar
Não vai parar

Eu já sei o que meus lábios, vão querer
Quando eu te encontrar
Molhados de prazer
Vão querer beijar
E o que na vida não se cansa
De se apresentar
Por ser lugar comum
Deixamos de extravasar
De demonstrar

Mas nunca me disseram o que devo fazer
Quando a saudade acorda a beleza que faz sofrer
Nunca me disseram como devo proceder
Chorar, beijar, te abraçar
'É isso que quero fazer
Isso que quero dizer

Eu já sei o que os meus braços vão querer
Quando eu te encontrar
Na forma de um C
Vão te abraçar
Um abraço apertado
Pra você não escapar
Se você foge me faz crer
Que o mundo pode acabar0
Vai acabar...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vou de táxi...

E hoje eu pedi um táxi pra ir pro trabalho.
Entro no santana e me deparo com um pequeno ser de metro e meio, usando óculos escuros, bigode e boné, escutando "camas separaaaadaaaas, beijos sem caloooooor, camas separaaaadaaaas, fim do nosso amoooor" (quem canta isso?).
Explico o caminho, o homenzinho vai dirigindo, cantarolando, feliz que só ele, com a mão esquerda batucando no volante, fazendo o relógio balançar, mão direita sobre a marcha.
Começa outra música: "menina veneno, o mundo é pequeno demais pra nós dois". Essa ele sabia mais ainda a letra. E eu também. Já tava quase cantando junto, tive que controlar a minha veia karaokeística.
Termina a música, entra o locutor:
"Um alô pra galera do Jereissati.
Um salve para os ouvintes do Jóquei Clube.
E Cleise Daiane ofereceu esta música para os amigos da.. da...
Atenção... Cleise Daiane ofereceu esta música para os amigos da BUNDS LINGERIE, no Conjunto Ceará. É Bunds Lingerie mesmo..."
Chego ao trabalho, pago o táxi e fico pensando: se eu fosse a dona da Bunds Lingerie, ia abrir uma filial no Papicu.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

2º e 3º dias

Depois de acordar às cinco da manhã de um pesadelo (sonhei que batia de novo o carro do papai).

---xxx---
Stop:
Lembra que falei que o papai tinha me emprestado o carro? Pois é...
Na quinta-feira, um dia antes da viagem, fui procurar o som no porta-luvas e quando vi já tava muito perto de um caminhão. Ia me enfiando embaixo com gosto de gás. Ainda puxei pro lado, mas não deu pra livrar.
Arranhou a lateral direita inteira: quebrou farol, arranhou paralama, vai ter que trocar as portas... Enfim, uma grande M.
Quinze dias de oficina.

---xxx---

E aí que depois que eu acordei do pesadelo o marido acordou também, demoramos a dormir e acordamos bem tarde. Quando saímos, sol já alto - Floripa engana viu, carro-alugado-basicão-sem-ar-foi-freud - o GPS foi, como em todas as viagens sem prévio roteiro, nosso melhor amigo - compramos um gps que vem com o Guia 4 Rodas. E aí tome indicação de restaurante, hotel, ponto turístico, etc.

Mas de vez em quando ele dá umas ratas. Manda entrar em local errado, diz que você chegou ao destino sem ter chegado, manda virar em rua que é contra-mão - em Pirangi do Norte (a cidade do Cajueiro, perto de Natal), dirigimos um bom pedaço até perceber que estávamos no sentido proibido).

Enfim...

GPS nos levou para passear pela Beira-Mar Norte (muito bela) e à Ponte Hercílio Luz, que está sendo reformada:


Depois fomos pra Lagoa da Conceição, e eis que ele faz a primeira barbeiragem - quem sai aos seus não degenera.

"Vire à direita". Acabamos entrando numa ladeira sem saída, antes de onde era o local oficial do mirante para a lagoa. But... esse GPS até quando é burro é inteligente. Num é que o safado levou a gente pra um mirante não oficial que era muito mais massa que o outro? Invadimos um terreno lá, deixamos o carro numa ladeira morrendo de medo do freio de mão não dar conta, mas batemos umas fotos lindas. Olha uma delas:


Depois, demos umas voltas pela lagoa, Barra da Lagoa, passamos pela tal da Praia Mole, mas nem descemos do carro (estava lotadíssima). Depois fomos pra Praia da Joaquina, muito linda e boa pra banho, por sinal.

Depois voltamos pra Lagoa pra almoçar uma tal de sequência em que a gente come camarão de todo jeito: à milanesa, alho e óleo, ao bafo, no molho, etc. Morreeemos de comer em um restaurante com essa vista:


E à noite só lanchinho básico...

3º dia, só descanso: repeat da Praia da Daniela só com pura morgação; Praia do Forte; almocinho em Jurerê; Praia em Jurerê (vento demaais) e descanso...

E c'est fini, porque tudo que é bom dura pouco.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

1º dia (13.11) - tarde e noite

E à tarde...

Praia da Daniela:


Água gelada demais. Tivemos nem coragem de entrar.

Fiquei olhando essa senhora de azul - essa que saiu pequenininha na foto - e me lembrei da mamãe. Fiquei imaginando-a, daqui a alguns anos, levando os netinhos pra praia. Acho que ela vai ficar feliz :)

Depois passamos em Canasvieiras. Não achei muito legal pra banho. É que lá fica o Iate Clube. E aí, já viu: dezenas de barcos, cheirinho de gasolina no ar... Tinha até um trator que entrava no mar. Duvida? Pois olha só:


E aí passamos ainda na Praia de Cachoeira de Bom Jesus - engraçado esse nome, né: "praia de cachoeira"... tô viajando...

Depois em Ponta das Canas, mas nem descemos do carro, porque tava meio lotada.

Pra cumprir tabela, fomos até a Lagoinha de Ponta das Canas. Resolvemos descer do carro, graças a Deus! Que praia massa!!! A água muito transparente, o mar tranquilo, uma encosta de pedras, uma pousada charmosa lá em cima... Tudo lindo. E uma estrutura de barracas razoável - enfim um chuveiro de água doce, porque ficar "breada" de água salgada é o fim!

(eu e a perna cabeluda o meu amado marido na Lagoinha de Ponta das Canas)

At night, fomos comer uma pizza básica (e oficialmente foi-se embora o meu regime). E certamente não mais tomarei vinhos que contenham referências a temas de geografia: Latitud, longitude, Greenwich, meridiano, atlas e por aí vai...

domingo, 14 de novembro de 2010

1º dia (13.11) - manhã

Decidi!

Vou morar em Jurerê Internacional e ponto final

Só falta escolher em qual dessas casas:





Brincadeiras à parte, o marido definiu bem o bairro - que na verdade é um loteamento residencial planejado - "utopia da humanidade".

Explico.

Não que seja necessário morar em casas luxuosas, com jardins belíssimos, portas, janelas e cortinas de novelas, mas morar, no Brasil, em casas assim, sem muros, parece irreal.

E são ruas e mais ruas... Todas assim, com casas no mesmo estilo.
E tudo perto da praia (praia sem as mega barracas de Fortaleza, diga-se de passagem, praticamente inexplorada, muito bonita).

Será que no céu é parecido?

Em Floripa! - Chegada (12/11)

Maridón tinha um congresso em Floripa de segunda a sexta e o que eu fiz, o que eu fiz? Engatei uma passagem na promô da Gol e embarquei em Fortal à tarde.

Passei por Guarulhos. Mas dessa vez foi light. A Gol só me colocou num avião da Varig, me colocou pra embarcar no portão 17 (um daqueles que você tem que pegar aquele ônibus e viajar até o fim do mundo pra pegar o avião) e depois me serviu dezoito gramas de batata frita e duas rosquinhas de côco. Pelo menos eu fui na janela, e não entalada que nem da outra vez.

Cheguei a Floripa. Tava bem frio.

O hotel é o mais fofo ever.

Olha só as escadas iluminadas por velas:




(sorry pela data das fotos - a máquina tava desregulada)

Fui dormir feliz, matando a saudade do meu amor...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sorte

Na semana em que a vovó Maria morreu, fiquei meio anestesiada, grogue. Acho que é normal.

Aí na quinta e na sexta da mesma semana, forças ocultas, como diria o Jânio Quadros, agiram para me tirar do sério. E só o luto pra me fazer passar por essas sem dar muita importância. Mas vamos às histórias.

Episódio I*

Na quinta-feira eu tinha uma consulta às 11h30min. Ia pro trabalho mais cedo, pra poder sair no meio do dia e tal. Saí de casa, passei no vovô pra dar aquele alô básico e me toquei que tinha esquecido os dois celulares (três chips, viu?) em casa.

"Tem nada não, eu volto pra pegar, é perto..."

"Aproveite e bote gasolina, que tá acabando!" - Disse a minha santa mãezinha.

E como eu herdei o semi-alzheimer dela, é óbvio que não passei em casa pra pegar os celulares.

Até me lembrei de colocar combustível, mas me confiei naquela luzinha maldita, sabe, que acende e ainda fica lá, quilômetros e quilômetros? É... mas o meu carro era um 1.0, Deus-meu, e o do papai-que-ele-me-emprestou-com-todo-amor-e-é-uma-máquina é 2.0.

E o resto é fácil deduzir.

Eu já tava derretendo, sem ligar o ar condicionado e aproveitando todas as banguelas (as duas leis de newton para a lisei... para quem está sem muito combustível - ei, mas as leis de newton não eram três?).

Quando faltavam uns cinco quarteirões pro posto, levantei os vidros e larguei o dedão no botão do ar. Foi mais rápido que a luz. Instantaneamente o carro começou a tossir meu amigo**...

E aí, o que eu pensei, o que eu pensei? "Vou ligar pra mamãe!"

Rá!

Como é que liga, sem nenhum dos meus dois celulares? Sem nenhum dos meus três chips? Até então eu nem tinha me tocado que tinha esquecido de voltar pra pegá-los.

A sorte é que, com o perdão do clichê, ainda existe gente boa nesse mundo. Dei o prego em frente a uma lojinha e a dona me emprestou o celular dela pra que eu ligasse, nem deixou eu ligar a cobrar. E aí mamys, minha personal-chapolin-colorado, apareceu com duas garrafas de refrigerante, uma de fanta laranja e outra de fanta uva***, cheinhas de álcool pro papi-móvel.

E pra "encher o tanque" sem derramar álcool na lateral do carro? Nam. Ontem meu santo marido enfim comprou uma flanela, pedaço de pano sagrado que poderia ter me poupado correr feito uma louca atrás de água, depois dessa história toda, pra pintura do carro não ficar manchada.

Depois, respirei e segui meu caminho alegre e contente para sempre, ou pelo menos até o episódio 2.


Episódio 2.

Na sexta a sorte estava virando. Faltou energia quase a tarde toda no trabalho (que disposição, lutty) e eu ia aproveitar pra ir fazer um exame que há séculos tava querendo fazer.

Saí então do trabalho, mas tinha milhares de carros me trancando no estacionamento.

Peguei então uma carona de uma amiga muy querida, que ia passar pertinho da clínica, e programei voltar de táxi e pegar o carro depois.

Quando cheguei ao balcão da clínica, entreguei a requisição e cadê a carteira do plano de saúde, cadê a identidade, cadê T-U-D-O? Tinha deixado a carteira, é, a carteira, grande, com tudo, tudo, dentro, em casa. Por que as mulheres têm que trocar de bolsa? - Eu já disse que herdei o semi-alzheimer da minha mãe (se é que existe herança de pessoa viva)?

A mocinha da recepção, muito boa: "A sra. pode deixar um cheque caução."

Mas como, se eu tinha esquecido a carteira? E putz... Como é que eu ia voltar pra Procuradoria sem dinheiro nenhum... Que m. E das grandes.

But... O Chaves que havia em mim disse: "Não contava com a minha astúcia!"

Mamys, na antevéspera, tinha deixado cair um talão de cheque num hospital pertinho do meu trabalho (vocês duvidaram quando eu disse que ela tinha semi-alzheimer) e justo naquele dia eu tinha ido pegar. E foi nessa sexta-feira que eu falsifiquei o primeiro cheque da minha vida... Ok, prometo ser o único.

Depois, família unida, ai que maravilha... Um primo tava voltando da praia, passou lá onde eu tava fazendo exame e me deixou no trabalho de volta...

Deus meu, obrigada!

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* Será que eu tenho TOC de falar as coisas enumerando?

**Reconheci na hora o prego de gasolina porque esse não foi o primeiro... All right. O primeiro, shame on me, foi por pura liseira mesmo.

*** Lembro dos sabores porque faz oito meses que não tomo nenhum refrigerante (promessa) e fiquei meio hipnotizada por meio segundo quando vi a mamãe chegar. Se aquelas garrafas não estivessem puro a cachaça...

**** (Não volte pra procurar porque não está no texto) Foi mal pelo post gigante. Meu marido diz que sou prolixa. Será?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Minha outra vó


83 anos. 1,55m de altura. Cabelos cinzas desde que me entendo por gente.

Dela herdei pernão e bundão. Dormi no mesmo quarto com ela dos 10 aos 22 anos.

Dia desses ganhou da mamãe, nora dedicada, uma revistinha de palavras cruzadas (depois que mamis ouvira dizer que era bom pra prevenir o tal do Alzheimer).

Aceitou sem dizer nada.

Mais tarde, rebolou a revista num canto e disse pra Xica que não precisava "disso" e que ainda não tava caducando (acho que ela tinha visto a mesma reportagem que a mamãe).

Mas dois ou três dias depois pediu pro meu irmão ensinar a ela como fazia o caça-palavras. Fez um, dois, três.... Acabaram os da revista.

Meu irmão foi e comprou uma só de caça-palavra.

E agora ela viciou de um jeito que ontem tava reclamando porque eu comprei um sudoku pra mim e nenhuma revista pra ela.

Xica então foi lá e fez a caridade de ir comprar.

Eis que quando a vovó abre a revista e começa a fazer o primeiro, eu passo de lado da rede e começo a brechar as palavras que ela tinha que procurar: "casais", "férias", "dinheiro", "rio de janeiro", "boston", "agências", "cruzeiros", e outras. Que caraléo de tema era aquele?

"Vóóó, deixa eu ver aí esse negócio, vai lá..."

Putz...

A vovó tava fazendo um caça-palavra sobre "O turismo gay", pode?

sábado, 23 de outubro de 2010

Vovó Maria...

Quanta saudade!

Desde o último dia 18, eu sei que não vou mais te ver aqui na Terra.

Sei que não vou mais sentir o seu cheiro, nem ouvir você dizer que fica arrepiada quando cheiram o seu cangote. Não vou mais ouvir você dizer que está com fastio, mas beliscar todas as comidas que os médicos tinham proibido. Não vou mais ouvir a sua gargalhada, tão típica dos Rocha, quando ouvia alguém contar uma piada.

Não vou mais ouvir você contar as histórias sobre o tempo em que trabalhava naquela perfumaria do centro da cidade. Não vou mais ver a sua letra bonita escrevendo um recado ou anotando um telefone. Não vou mais ver você saindo pra ir à missa.

Vovó, a senhora proporcionou a mim e aos meus irmãos e primos uma infância maravilhosa. A senhora me deu primos que são verdadeiros irmãos, tios que são um pouco meus pais e tias que são também minhas mães. E eu te agradeço por tudo isso, por cada final de semana que passei na sua casa, por cada reunião de domingo e por cada benção que a senhora me deu.

Mas vovó, quando eu chegar à sua casa no sábado, antes de ir almoçar na casa da mamãe, assim como eu não vejo mais a Lelê sentada no batente do quintal, sei que não vou mais te ver sentada naquela cadeira de balanço na entrada da sala. E quando eu for embora vovó, eu vou pedir a benção ao vovô, mas você não vai mais me levar até o portão.

Porém, mais do que essas certezas todas, eu tenho a convicção de que, no último dia 18, o céu fez festa pra você. Nosso Senhor estendeu o tapete vermelho. E eu sei que a Lelê, o Geurim, sua filhinha Marta e suas manas estavam te esperando. E eu espero, vovó, que quando os meus dias terminarem, Deus me dê a graça de ir ficar pertinho de você.

Um beijo saudoso,

Lulu

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

As pessoas e suas circunstâncias

Na faculdade eu tinha uma professora que passava dever de casa.
Não estou exagerando.
A gente passava quase duas horas escutando a voz aguda da professora loira de sobrenome espanhol, e no final da aula ela abria a boca e dizia: "Dever de caaasa!!!".
Cada um anotava no caderno - a revolta crescendo por dentro - a pergunta pra qual ela queria resposta: o sexo dos anjos, a nossa marca de absorvente preferida, ou enfim, o que quer que fosse o "dever de casa".
Essa professora arrotava uma grandeza que mal dava pra aguentar (jura que na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará tem professores assim?).
Ao final do semestre, sempre ficava boa parte da sala de final. Era um atestado de "eu sou f..., ninguém passa direto na minha cadeira". E no meu semestre não foi diferente. De 60 pobres almas indefesas, 40 ficaram no limbo.
Lembro como se fosse hoje eu estudando feito louca, por quatro ou cinco livros diferentes, pra fazer uma prova que apenas era, descobri depois, a cópia alterada de provas aplicadas em semestres anteriores. Digo "alterada" porque ela fazia assim: no semestre 2004.1 colocava uma alternativa como verdadeira e no 2004.2 como falsa, acrescendo alguma palavra como "não", "nenhum", etc.
Pois bem. Passei. Porém, como tantos outros, adquiri um pequeno-sutil-discreto-leve ódio mortal dessa teacher.
E eis que, no domingo da eleição, estou eu no setor de uns colegas, de costas pra porta, quando escuto uma voz inconfundível. IMEDIATAMENTE, reverberou aquela expressão na minha cabeça: "dever de casa!" "dever de casa!" "dever de casa".
Meu coração bateu até mais rápido.
"Oiiii, eu ouvi dizer que aqui tem um bolo de chocolate delicioso!"
Me virei pra olhar o que até ali tinha sido só a voz.
Aquela ég--- nobre senhora estava grávida.
Em um trilhonésimo de segundo pensei: "você-não-vai-comer-esse-bolo-porque-tá-uma-baleia-e-além-do-mais-eu-participei-da-cota-e-não-vou-pagar-pra-você-comer-saia-logo-daqui-senão-você-leva-porrada!!!"
No lugar de vociferar toda a minha raiva, construi feição a mais blasé possível.
E fiquei admirando toda a pequenez daquele ser: agora sugado por outro, com coluna torta, usando blusa de malha "Eleições 2010" e calça de elástico, cabelos loiros agora com quatro dedos de raiz preta, olheiras. Um ser humano normal. Pequeno como todos nós. Destituído de qualquer vaidade em nome de um ainda projeto de gente. Pedindo encarecidamente um pedaço de bolo de chocolate.
Cadê a arrogância, a prepotência, aquela soberba toda?
No dia da eleição, ela era só mais uma MÃE. E era tudo isso.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sobre Doritos, Bohemia e DVD

Ressaca da eleição. Cansaço total. Nada de academia por hoje. Saudade dos afilhados. Os três pertinho de mim. Viagem pra organizar. Mudança grande já foi. Vovó dodói. Mamãe preocupada. Vovô saudoso. Marido longe. Nada que preste na televisão. Sinto falta do Grey's. A temporada nova já começou?

Uma passada na locadora, um pacote de Doritos e uma gelada seriam providenciais. Mas hoje é segunda, amanhã eu trabalho e... malho. Porque agora eu sou uma mulher que malha (há duas semanas, mas malha). E eu não estou mais só, fazendo festa com a solidão e o eco da minha voz no meu AP. Assim, o filme poderia até rolar, mas um pacote de Doritos e uma cerveja bem gelada (já que tô afastada do líquido negro da vida e similares), apesar de muito desejados, despertariam as mais insistentes e revoltadas indagações.

No ensejo -> 10 vantagens da minha estadia na casa da mamãe:
1. Não ter que arrumar minha cama.
2. Poder pedir pra Xica fazer suco de laranja pra mim todo dia de manhã.
3. Não precisar fazer mercantil.
4. Não ter que pagar contas.
5. Ser mimada como se tivesse me separado e voltado pra casa.
6. Poder usar os sapatos e as roupas da sister (tá bom, nem todas cabem, assim, beeem facinho).
7. Poder dormir no quarto com a vovó.
8. Poder conversar até mais tarde com a vovis, pois, ao contrário do maridón, ela sempre dorme depois de mim.
9. Poder estudar, ler, assistir televisão, tudo no quarto, e se quiser até com luz acesa porque ela não reclama.
10. Ser a irmã casada-adulta-que-mora-na-mesma-casa-mas-com-quem-os-irmãos-não-podem-mais-brigar.

Another day: as dez desvantagens...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Seu Sobreira

E o Seu Sobreira, machista até o último fio de cabelo, deu aquela saidinha do sábado e chegou com o pão do domingo.
A mulher acordou com o arrastado dos pés e veio ver a marmota.
Ele tirou a camisa, pendurou na cadeira da mesa de jantar - pra completar com as outras cinco que já tavam servindo de cabide - e disse, com uma voz gutural:
"Mulheeer, tu ainda num fez o café, não?"
A empreg... a esposa foi percorrendo o caminho porta do quarto-corredor-sala-cozinha.
Mas antes de chegar lá onde ela ia esquentar o bucho, passou por onde o Seu Sobreira tinha deixado a última camisa e viu uma mancha safada de batom na gola.
Reclamar das camisas nas cadeiras, das viradas de noite, da ignorância do marido, tudo isso ela já tinha feito. E nada tinha dado resultado. Mas aquela mancha de batom... Era demais pra ela, às 6 da manhã do domingo. Não tinha condições.
"Ô Sobreira, QUE DIABÉISSO???"
Seu Sobreira, na calma, olhou pra camisa, olhou pra esposa, olhou pra camisa, olhou pra esposa...
"Mulher, tu quer fazer confusão ou quer ser indenizada? Toma logo aqui duas onças..."

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Safári na cidade grande

E aí que eu fui pra São Paulo, mas não calculei o percurso de volta.
Resul: era quarta-feira, dia de rodízio pro nosso carrim, tive que encarar um trenzão, pra começar... Ainda bem que fui só, porque não cabia mais ninguém, impossível, nem o husband.
Pense num Conjunto Ceará-Papicu lotado às 7 horas da manhã. Agora isso aí, multiplique sem nem por quanto. Com o perdão do clichê, você não entra, meu amigo, você é empurrado. Uma falta de respeito t-o-t-a-l.
Depois de pegar o terceiro trem (é, garoto, o primeiro passou direto - como assim? - e o segundo não deu pra entrar), passei uns vinte minutos beeem longos até descer, ou ser empurrada, de novo. Detalhe, isso tudo com uma mala.
Depois, metrô-baldeação-outro metrô.
Rodoviária. Ônibus. A melhor parte do percurso certeza. Até porque avião hoje em dia, vou te contar, pior que ônibus dez vezes. E o que me aguardava estava ES-PE-CI-AL!
Cheguei ao aeroporto. E teve que rolar uma troca de portão, é claro, se não não seria Guarulhos.
Fui pra um daqueles portões de saída de ônibus... Outro ônibus pra ir pro avião...
---xxx---
Pausa para suspirar: lembrei que vi uma ex-professora minha da faculdade (calma, eu não suspiro pela teacher), que agora é uma-advogada-milionária, e ela tava usando um casaco de couro simplesmente lindo. Não era assim, um couro normal, era trabalhado. Enfim, acho que de fato ela tá meio milionária mesmo.
---xxx---
Peguei o busão pra ir pro avião (a rima foi sem querer).
Eu, pra variar, só tinha escolhido a cadeira na hora do check in. Não tinha janela, nem corredor. "Mas tudo bem", pensei, como diz o Tiririca, "pior do que tá não fica".
Rá.
E foi aí que a Lei de Murphy bateu o pé e disse: "garota, não vai ser tão fácil assim se livrar de mim, não!".
Óóóóbeeeveeeo que no corredor, no assento ao lado do meu, tinha que ter um senhorzinho assim, de uns 160 quilos. Rapaz, parece mentira. Mas não é. O cara era tão grande que precisou de um extensor pro cinto, pode?
Depois chegou um playboyzim Abercrombie, sentou na janela e dormiu a viagem inteira.
E eu fiquei lá, entalada.
De repente veio o comissário de bordo, todo simpático, mas não era comigo, era com o meu vizinho grandão. "Senhor, o senhor deseja mais alguma coisa, senhor? Infelizmente, senhor, não temos outro assento pra lhe oferecer, senhor, mas o que o senhor estiver precisando, é só pedir, senhor!"
Que solícito! Todo prestativo, politicamente correto com o homenzão, e esquecendo de mim, a esmagada (tudo bem que eu não sou nenhuma olívia palito, mas, poxa, quem tava merecendo outro assento era eu!).
Enfim, desencanei, relaxei e me preparei para a viagem, no maior estilo Joseph Climber.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas...
E ainda tive que aguentar muita, muita turbulência, tipo, uns 40% do tempo de voo.
E você sabia que a palavra "voo" não tem mais acento?
Assento, acento... Podre essa cacofonia...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rezando o terço com a madrinha

Cabelos rebeldes de novo.
E agora ela não é mais a caçula. A insegurança e o ciúme se refletem, logicamente, na irmã mais velha. E é uma de tomar brinquedo, de implicar, de chorar, de berrar...
Só sei que ela foi pra casa da vó, rezar o terço (compromisso mensal dos 17 filhos, dezenas de netos e quiçá centenas de bisnetos de Chaguinha). Quatro anos de idade. Imagine só, passar quase uma hora escutando "ave-maria, cheia de graça....".
E a madrinha, então, foi cumprir a missão tão orgulhosamente recebida: evangelizar a menininha dos cabelos rebeldes e tentar fazê-la crer que rezar o terço é muito legal. Logo ela, que desarma qualquer um. Logo ela, de uma impaciência e uma agitação que, como já disse, beira a hiperatividade.
A madrinha sentou do lado dela e começou a ensinar: "amore mio, toda vez que o pessoal disser 'ave-maria...' você passa pra próxima bolinha.
E assim foi indo, não sem que ela perguntasse de cinco em cinco minutos: "tá acabando, madrinha?" "madrinha, tá em qual bolinha?". Suficientemente alto para todos darem aquela risadinha abafada.
Quando terminaram (e ela percebeu, porque o salve-rainha quebrou toda a sequência que ela já estava quase decorando), o pai dela se levantou (ato pontuado por mais um "acabou, madrinha?) e sugeriu uma dinâmica. E a madrinha, imaginando uma dinâmica de fato dinâmica, disse toda animada: "amor, olha que legal, agora o papai vai fazer uma brincadeira!"
E o pai dela: "Fechem os olhos, por favor".
Como diria minha vó: ponte que partiu... ele não ia fazer uma dinâmica, e sim uma estática. Uma meditação, uma reflexão... Jesuuuiiisss.... Era agora que ela ia pirar.
Quando a madrinha olhou, ela estava de olhos fechados sorrindo com todo gosto, como quem espera um brinquedo novo de presente surpresa. "Pronto, madrinha, fechei!"
"Madrinha, já fechei!"
"Imagine um jardim, lindo... com flores de todas as cores..."
"Madrinha?" - num volume um pouquinho mais alto...
"Você está sentado embaixo de uma árvore, com uma sombra gostoooosa"...
"Madrinhaaa?"
"Você está caminhando por esse jardim..."
E a madrinha já quase dormindo, acordou com quase-gritos:
Ô MA-DRI-NHAAAA, CADÊ A BRINCADEIRA?"

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Rain Man, Invictus e Robert de Niro

Na solidão de ter o marido longe, curtindo os últimos dias do meu ap-lindo-que-decorei-com-muito-amor-há-menos-de-um-ano-mas-vou-deixar-por-uma-ótima-causa, a locadora de vídeos me socorre pelo menos umas duas vezes por semana.

E procuro alugar sempre dois filmes: um lançamento e um antigo (pra ver se eu diminuo a minha ignorância cinematográfica).

Nessa de alugar filmões velh... clássicos, já assisti filmes simplesmente podres. "Onde os fracos não têm vez" é um deles. Aluguei por indicação de uma amiga que disse que o Javier Bardem (que é um luxo, de fato!) atuava excepcionalmente. É vero, mas pelo amor de Deus... Esse é o único aspecto do filme pelo qual se pode pensar que vale à pena assistir à bendita película.

Começa a ruindade do filme com a tradução errada do título "no country for old men" (acho que pensaram que seria muito indelicado traduzir pra "homens velhos", só pode!).

Mas também já peguei uns filmes muito bons: O Poderoso Chefão (dá pra acreditar que assisti há poucos anos?), O Silêncio dos Inocentes (idem), A Cor Púrpura... e ontem o Rain Man, com o Tom Cruise. "Who's the first, who is on the first?". E pensar que a primeira impressão que eu tive do Dustin Hoffman na vida foi quando assisti ao "A Volta do Capitão Gancho". Ele é demais!

Junto com o Rain Man aluguei aquele filme sobre o Nelson Mandela e o time de rugby (what the hell???) lá da África do Sul. Tirando as cenas de rugby-sei-nem-como-joga-isso (e diga-se de passagem que ocupam bem metade do filme), não tem como não se emocionar com a história de vida do Nelson Mandela. E olha aí o finalzinho do poema que servia de inspiração pra ele na prisão:

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate;
I am the captain of my soul.


Minha tosc... livre tradução:

Não importa o quão estreito o portal,
Quão cheio de castigos o caminho,
Sou o senhor do meu destino,
Sou o capitão da minha alma.

Voltei à locadora pra entregar o Rain Man e o do Mandela, e um filminho com o Robert de Niro olhou pra mim da prateleira, eu olhei pra ele, ele paquerou comigo, pintou um clima e eu não resisti. Até porque desde que eu assisti ao "Amigo oculto" que quero assistir todos os filmes com o Robert e a Dakota (sou íntima) que passam pela minha frente. Quem assistiu não tem como não lembrar do "charlie, charlie, charlie!".

Pois é, e deixei lá, na prateleira, carentes, esperando por mim, o "Jean Charles", do Selton Mello (de quem sou fã incondicional), que eu tava querendo muitíssimo (querendo o filme ou o Selton Mello?), e um suspense novo do George Cloney pra próxima. Trouxe o do Robert (gostou da intimidade? 2). E tomara que preste...

domingo, 22 de agosto de 2010

É Fan-tás-ti-co, pam!

E a Maria Gadú com seu primeiro clipe?
Que voz é aquela, rapaz? Incrível, simplesmente demais.
Mas demais mesmo foram os comentários que se seguiram:
Patrícia: "muito talentosa".
Zeca: "ah, e uma menina muito resolvida".
Como assim, te identificastes, Zequinha?

sábado, 21 de agosto de 2010

Super Nanny


Se eu ficar em casa sábado à noite, troco rapidinho o Jornal Nacional pela Super Nanny brasileira.

O que mais me chama atenção é como o filho mais velho de cada casa é, pelo menos em metade dos casos, tratado da mesma forma.

O casal chama a Super Nanny, achando que o problema todo tá nos filhos. Ela faz rotina, bota o casal pra conversar, e chama o mais velho pra falar sobre papai e mamãe. Cara, não varia: e o menino chora, e diz que a mãe e o pai não têm tempo pra ele, porque os irmãos dão trabalho demais, e diz que queria que a mãe ficasse mais com ele, que queria que ela fosse mais carinhosa, que o irmão não deixa brincar...
Talvez me chame atenção justamente porque eu também sou a mais velha lá de casa. E, no meu caso, há uma agravante: depois de mim ainda vêm 3.

Os pais têm o primeiro filho, o casamento ainda é uma maravilha.

Têm o segundo, e nem tudo vai mais tão bem assim. As contas começam a inchar, os pais não têm mais a mesma paciência de antes... E aí começa: "meu filho, você é o mais velho, tem que ajudar".

Chega o terceiro (o que tá cada vez mais raro, mais ainda chega). "Meu filho, você é o mais velho, não se troque com o seu irmão!". "Meu filho, você tem que dar o exemplo!".

E a mãe e o pai, envolvidos com os caçulas - "ele ainda é tão pequenininho" - e com o do meio - "afff, esse veio de encomenda, ô menino danado!" - acabam se acomodando em relação ao primeiro, que vai meio que crescendo por si só, sempre quietinho, sempre obediente, sempre estudioso, sempre querendo agradar.

Repito: é INCRÍVEL como isso se repete.

Lá em casa foi um pouquinho (mas só um pouquinho) diferente.

Mamãe trabalhava feito louca, e não tinha muito mais tempo para os outros do que pra mim, o que camuflava um pouco o meu abandono.

Papai sempre fez a festa com os meus feitos no colégio. Altamente vibrador, quando eu tinha dez anos apostou um engradado de cerveja com um amigo que eu ia passar no Colégio Militar entre os dez primeiros lugares. E isso botava a minha auto-estima lá na estratosfera. E eu, muito sarcástica, adorava quando ele dizia aos outros "siga o exemplo da sua irmã!". Que menina malvada, tsc tsc tsc...

E vovó (sim, porque fui criada morando também com a minha vó) sempre me teve por neta predileta, nunca conseguiu esconder isso (e eu adoraava, é lógico). E ela dava de conta dos mimos que papai e mamãe não tinham tempo de dar...

Esse "pouquinho" não me tirou a organização, a vontade de estudar e a vontade de agradar os outros. Mas me tirou a carência típica de filho mais velho. Não me tirou o senso de responsabilidade pelos meus irmãos, mas me tirou a insegurança e um pouco (só um pouco) da timidez.
Mas em geral, a minha teoria é a seguinte: filhos mais velhos são os mais estudiosos e mais certinhos; os do meio são os mais sociáveis (sempre negociando com pais e irmãos); os caçulas os mais mimados.
Mas toda teoria tem exceção...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Saquinho da Blue Man - Parte I

Depois de quase três anos de casada, mamãe resolveu me devolver umas coisinhas, minhas, só minhas, que ainda estavam por lá.
Não daria pra escrever em cem posts o que tinha nessas caixas.
Vou preparar a mudança pra Sampa e acho que vou levar todas essas coisas na mão, porque o valor delas... é simplemente alto demais...
E hoje escrevo sobre uma pequena parte dessas lembranças. Escrevo sobre uns papéis que estavam acomodados dentro de um saquinho de biquini da Blue Man. O dito saquinho, por sua vez, estava dentro de uma caixa de sapatos, que estava em um lugar qualquer da casa da mamãe.
No saquinho havia cartas. Sim, cartas, pois naquele tempo (e nem faz tanto tempo assim) se escreviam cartas.
A mais antiga, de quando eu fazia a 5ª série, foi escrita em uma página arrancada da minha agenda da época, que tinha na nota de rodapé a seguinte frase: "só existe uma coisa melhor do que fazer novos amigos: conservar os velhos". Escrita por quem se intitulava "best friend 4ever". No verso, uma foto do Tom Cruise cortada de uma revista.
Um bilhete da mesma amiga, dizendo que eu tinha que ir pra "Mustick" (ê, bons tempos, quando a boate Mucuripe era de fato no Mucuripe, e eu ainda frequentava a matinê de 6 da noite do domingo). Tinha que ir pra Mustick, porque lá era o lugar perfeito pra encontrar o paquera. E num é que aconteceu do jeitim que ela tinha dito? Essa foi a primeira de muitas amigas Larissas que eu tive. E hoje, quando eu penso em um nome de menina para minha futura filha sempre penso em Larissa "porque todas as minhas amigas Larissas são legais!". Ah, ela faz aniversário no dia do meu aniversário de casamento (ou eu casei no dia do aniversário dela?). Ah! E pra onde ela foi esse mês? Pra onde, pra onde?
Duas cartas eram do "Baiano", namorado da minha melhor amiga da 8ª série (essa o mesmo tempo que separou vai unir, em breve, espero que não apenas geograficamente). E a gente se chamava de cunhadinho e cunhadinha. Ele, lá pertinho de pra onde eu tô indo, numa escola militar, escrevendo sobre a saudade dos amigos, e, é claro, sobre a saudade da minha melhor amiga. O envelope era até timbrado com o logo da academia.
Outra carta era na verdade um cartão, de Feliz Natal. Esse era de outra amiga que também tá morando praquelas bandas.
Uma carta de papai, não datada, dizendo o quanto estava triste por eu ter dito que tinha vergonha dele (sim, eu tinha crises de rebeldia).
Uma carta "de mim para mim mesma", em março de um determinado ano, em que eu apenas reclamava da vida e colocava pra fora todos os meus enooormes problemas. Fazer o quê, se pelo menos pra mim eles eram grandes mesmo?
Outra carta "de mim para mim mesma", no 6 de janeiro do ano seguinte, resumindo o ano anterior como "o mais educativo da minha vida". Ah, as coisas que a gente pensa aos quinze anos... Essa não tava escrita a mão, mas sim digitada, em arial 12, provavelmente num dos primeiros computadores que eu tive. E falava do primeiro "fica", dos amigos novos, das amizades retomadas... As coisas tinham mudado bastante desde a carta anterior.
Uma carta da amiga de bsb, falando daquele por quem ela estava apaixonada. Ela ainda amaria ao longo de pelo menos oito anos. Foi pra mim que ela falou pela primeira vez que gostava dele. Ela só o beijaria às vésperas do meu casamento, oito anos depois.
E havia bilhetes, desses assim que a gente escreve despretensiosamente, sem imaginar que um dia eles irão cair no nosso colo, amarelados pelos anos, e nos farão mergulhar tão gostosamente nos tempos idos que não voltam.
E três bilhetes eram daquela melhor amiga da 8ª série. Bilhetes grandes, de folha inteira, com letras garrafais dizendo o quanto me adorava.
Dois bilhetes de um amigo, aspirante a pichador (de cadernos). Letras estilosas, que na época eu com certeza entendia, mas que, hoje, não transparecem mais do que garranchos. Assinatura, logicamente, com o pseudônimo. Identificação da pseudogangue: "servos do espírito". Não me pergunte o que significava isso.
Um bilhete, também de folha inteira, da então mais nova amiga da sala 105 e do Ibeu. Esse era um paratodas (rodava entre várias pessoas), direcionado ao G5 que formava as "Spice Girls" (que breguice, meu Deus!). E eu era uma delas. E a coincidência: essa amiga tá namorando um cara de onde, de onde?

....to be continued

---xxx---


"Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João..."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pout-porri da saudade

Cinco e quarenta da manhã, voltando do aeroporto, depois de dois dias e meio de alegria, iniciando as três semanas de saudade.
No rádio, Marina, Zélia e Renato se encarregaram da trilha sonora:
"Meu mundo você é quem faz música, letra e dança."
"Num apartamento perdido na cidade, alguém está tentando acreditar que as coisas vão melhorar, ultimamente... Na medida do impossível, tá dando pra se viver na cidade de São Paulo..."
"Veja o sol dessa manhã tão cinza."
E na mudança do rádio pro CD, não podia faltar Fagner:
"Quando penso em você encho os olhos de saudade".

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Tolerância Zero

Dia dos Pais.
Almoço no vovô.
Antes, uma incumbência bááásica de mamãe: "minha filha, traga um sorvetim, que num tem nenhuma sobremesa".
Beleza. Lá vou eu com uma enxaqueca federal atrás de dois potes de sorvete. Sim, porque minha família é grande mesmo. Paro na sorveteria e tem duas criaturas-clientes.
Do lado esquerdo, um homenzinho que, definitivamente, não deve conhecer Leite de Rosas.
Do lado direito, uma mulher dos seus cinquenta anos, enoorme, com quatro dedos de raiz preta nos cabelos, um tamanco horroroso e os pés rachados de tão secos. (É, eu tava de péssimo humor).
Daí que a mulher ficou ensebando lá, pediu três picolés de côco. (a essa altura, tinham descido do carro, e se juntado a ela, a filha e a mãe, uma senhorinha muito arrumadinha e muito fofinha, mas que não queria porcaria de picolé diet coisa nenhuma).
A mulher recebeu os picolés, começou a comer e tal. O fedido pediu então um sorvete lá e eu, pra aproveitar que o atendente já tava mesmo com o freezer aberto, pedi os meus.
"- Agora eu acho que o sr. devia atender primeiro quem chegou antes." - disse a doida da raiz preta.
Rapaz, o sangue subiu....
"Como é que eu ia adivinhar que a senhora ainda não tinha terminado? A senhora tá muito estressada, devia ter era vergonha de andar com uma senhora de idade e ficar fazendo confusão por causa dum pote de sorvete!!!!"
Pronto, quando vi já tinha falado. E ainda fiquei resmungando lá. Ela respondeu? Não, óbvio. Deve ter se assustado com a minha rebeldia. Será que ela pensou que eu ia ficar calada? O fedido ficou. Sequer concordou com o que eu fiquei murmurando depois que a doida tinha saído.
Foi-se o tempo em que eu levava desaforo pra casa. Ainda mais com uma enxaqueca como a de hoje... Tive paciência não, viu...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Vaidade


Depois de um mês quase insuportável, longe do maridão e trabalhando de segunda a segunda, nada melhor do que terminar a tarde de trabalho de hoje recebendo do chefão aquele elogio. Ele reuniu a equipe toda, perguntou se nós já tínhamos visto uma notícia de jornal que ele segurava na mão. Ninguém tinha visto ainda.
A notícia tratava da aplicação da Lei Complementar nº 135 (que todo mundo conhece mesmo é como Lei Ficha Limpa). Até hoje à tarde, 110 candidatos tinham sido barrados na porta de entrada para a corrida eleitoral. E desses, 24 eram do Ceará. Número recorde no Brasil.
Nossa... Fiquei orgulhosa demais. E pensei o quanto tinha valido à pena todo o sacrifício.
Depois disso, pausa no trabalho pra despedida de um colega, que, muito chique, agora vai ser Promotor de Justiça.
Lá pelas tantas da despedida, um pequeno clube da luluzinha se formou e as meninas começaram a falar de depilação a laser. Depois uma delas falou de drenagem linfática. Uma segunda disse que drenagem já era: o negócio agora era um tal de "mantos" (sei-nem-como-escreve-isso). Uma terceira falou "que mantos, que nada! agora eu faço 'num-sei-o-quê-shape'". E de repente elas deixaram a festinha pra ir olhar umas fotos de antes e depois... Dessas que a gente só vê em propaganda de clínica de estética.
Mas enfim, distraíram-se lá, a discutir o que era melhor, se a drenagem, o tal do mantos ou o sei-lá-o-quê-shape. Eu, totalmente perdida. Eu, com uma vaidade que se resume a passar um corretivo e um pozinho nos dias de mais olheiras. Saí de fininho. Voltei pra minha sala.
Mal abri a porta e já vi outra colega. "Ainda bem que você chegou, tem um monte de coisa pra resolver".
Ai, que alívio...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mamma Mia


Dia desses eu assisti ao "Mamma Mia", filminho que, pra quem gosta de musicais, é uma excelente pedida. Poucos dias depois, no meu birthday, ganhei a trilha sonora. E tem uma música que simplesmente não sai da minha cabeça. Coloquei o CD no som do carro e essa música dura exatamente o tempo do meu pequeno percurso casa-trabalho.
A Meryl Streep, maravilhosa como sempre, é a amante pela qual o Pierce Brosnan se apaixonou e quem vê a interpretação dela, sério, quase chega a torcer pela amante. No mais, bem, a letra fala por si só:

The Winner Takes It All
ABBA


I don't wanna talk
About the things we've gone through
Though it's hurting me
Now it's history
I've played all my cards
And that's what you've done too
Nothing more to say
No more ace to play

The winner takes it all
The loser standing small
Beside the victory
That's her destiny

I was in your arms
Thinking I belonged there
I figured it made sense
Building me a fence
Building me a home
Thinking I'd be strong there
But I was a fool
Playing by the rules

The gods may throw a dice
Their minds as cold as ice
And someone way down here
Loses someone dear
The winner takes it all
The loser has to fall
It's simple and it's plain
Why should I complain.

But tell me does she kiss
Like I used to kiss you?
Does it feel the same
When she calls your name?
Somewhere deep inside
You must know I miss you
But what can I say
Rules must be obeyed

The judges will decide
The likes of me abide
Spectators of the show
Always staying low
The game is on again
A lover or a friend
A big thing or a small
The winner takes it all

I don't wanna talk
If it makes you feel sad
And I understand
You've come to shake my hand
I apologize
If it makes you feel bad
Seeing me so tense
No self-confidence
But you see
The winner takes it all
The winner takes it all...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A pior hora do dia

Pronto!
Essa é a hora que a saudade dói, que me dá um nó na garganta, que a solidão me massacra. Não pensei nunca que seria tão ruim assim.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Penseira

Pronto, ontem foi um daqueles dias em que quis ter muito uma penseira.
Porque, sério, eu pensei que minha cabeça ia estourar de tanta coisa que eu estava pensando ao mesmo tempo.
Fora as inúmeras tarefas do trabalho (essas eleições estão me matando, e ainda nem chegou o dia da votação), tinha obra em casa, tinha escritura pra lavrar, tinha mudança pra organizar... (não me pergunte como uma pessoa pode estar com um apartamento novo, lavrando a escritura, mas com obra por fazer e uma mudança pra organizar).
Além disso, e aproveitando a onda de Harry Potter, "great things are about to happen". E por causa desses grandes acontecimentos, decisões precisam ser tomadas. E a vida precisa ser organizada.
No fim do dia, nada disso tudo estava resolvido. Mas nada me incomodou tanto quanto não ter podido fazer aquela visita e sentir aquele cheirinho de recém-nascido que anestesia qualquer um.

domingo, 1 de agosto de 2010

Comemorando o aniversário da madrinha

4 anos de idade.
Cabelo cacheado rebelde.
Astúcia que beira a hiperatividade.
Naquele dia, tava indo comemorar o aniversário da madrinha em um restaurante.
Desceu do carro do pai, olhou ao redor, viu uns 50 carros.
Olhou de novo e disse:
"Papai, todos esses carros são pro aniversário da madrinha, é? Ela conhece muita gente, né, papai?"

sábado, 31 de julho de 2010

Mudanças

Sim, eu sei que esse é apenas o terceiro post.
Mas, por motivo de força maior, tive que mudar o meu perfil.
Não sou mais madrinha de apenas dois, mas de três!
E filhos terei, sim! Um dia!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O apelido

Começou, é claro, da semelhança com o nome.
Alguém chamou, acho que alguma amiga do Colégio.
Na época, não havia msn, orkut, nada disso. Eram só os bons e velhos MIrc e ICQ. Como no primeiro se usavam "codinomes", resolvi colocar o "LuTTy", assim, com o L e os dois Ts maiúsculos.
Mais tarde, o então namorado, hoje marido, passou a me chamar pelo diminutivo do apelido (se é que isso existe...).
O mais interessante é que, por mais que hoje poucos me chamem pelo apelido, sempre que me identifico ou sou identificada por ele sinto aflorar a parte mais real de mim. Aquela da qual não faz parte o lado externo da coisa.
Falar como LuTTy sempre, sempre vai me remeter ao que há só dentro de mim, àquilo que só eu vejo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Rápido e indolor...

ou não... rs
Corei de vergonha quando me dei conta de que o blog já estava no ar.
Feliz em ter companhia para as minhas noites de insônia...